dEFICIÊNCIAS
e dFORMADORES DE OPINIÃO
As leis não bastam: elas não falam do amor.
Agosto/2009
Nos últimos oito anos,
o mundo começa a perceber que o Brasil deixa de ser o gandula do jogo e passa a
ser um dos principais articuladores do time das grandes nações. Com os passes
curtos e lançamentos longos pela paz, com muitos dribles para eliminar a
exclusão social, com criatividade e alegria, o país verde e amarelo cria as
condições para disputar a camisa 10 desse time.
O Brasil sempre foi o
país das imensas riquezas naturais, da maior cobertura florestal, de variadas e
abundantes jazidas minerais e de quase 20% da água potável do planeta. É o
quinto maior em extensão territorial e população. Faz parte dos 5% dos países com
maior circulação financeira, e as previsões indicam que, até o final desta
década, deverá ser a quinta economia mundial.
Por causa dessa
exuberância, várias gerações ouviram e repetiram a expressão que se tornou
popular por aqui, de que "Deus é brasileiro". Jorge Ben Jor, com toda
irreverência, cantava: "moro num país tropical, abençoado por Deus, e
bonito por natureza". O mesmo argumento, contudo, foi utilizado para
incutir na cabeça de uns e outros que seríamos eternamente um gigante
adormecido, deitado em berço esplêndido, condenado a um futuro de glórias
distantes e incertas, nunca alcançáveis, por sermos um povinho preguiçoso,
ignorante e corrupto.
Neste princípio de
Século XXI, ao despertar as atenções do mundo, o país está sendo dirigido por
um presidente e um vice com trajetórias de profundas deficiências, cujas
escolaridades não ultrapassam a metade do ensino fundamental; sendo ambos
filhos de pais pobres, e o primeiro mandatário pertencente a família retirante
do Nordeste. Por décadas, este que é o Presidente da República, foi tachado de
deficiente e incompetente, que quase nunca trabalhou na vida. Das poucas vezes
que pegou no pesado, acabou acidentado, perdendo o dedo mindinho da mão
esquerda, por descuido.
"A vida não é, ela
está sendo" dizia Paulo Freire. O avanço do país comprova essa verdade,
além de desconstruir, de forma acelerada, as idéias e valores daqueles
(de)formadores de opinião, que não acreditavam (e muitos continuam não
acreditando) no Brasil e no nosso povo. O mito do brasileiro preguiçoso e
ignorante esvai-se como fino pó, ante a pujança da economia nacional, a
criatividade em vários setores e a eficácias comprovada.
Não
nos demos conta de que o futuro será a busca do Autodesenvolvimento!
Não é novidade que
Francis Fukuyama estava errado quando disse que estávamos vivendo o Fim da
História. Contudo, ainda não nos demos conta de que, possivelmente, a
humanidade está vivendo o início de uma "Outra História". O novo
paradigma da comunicação, motivado pelas tecnologias da digitalização e as
mudanças da matriz energética mundial, estão entre as mais significativas
rupturas, que possibilitarão o surgimento do comunitarismo como o modelo da vida futura.
A necessidade de ser
forte localmente é uma das premissas para ser forte e ter influência
globalmente. A cultura, o meio ambiente e a vida saudável, em todos os sentidos
passam a entrar no cardápio, e podem virar gênero de primeira necessidade.
Muita coisa tem que acontecer ainda. Mas quem garante que a guerra e a violência
não possam ficar fora de moda? Que o sentimento de alteridade não possa nos
conduzir? Que cada vez mais a solidariedade não vá deixando de ser apenas uma
palavra dita e escrita e passe a ser uma atitude efetiva de milhões de pessoas?
Quando a sociedade da informação supera a "Era do Play" e assume a "Era do Enter", o mundo se
surpreende com os internautas brasileiros.
Apesar de grande
número de brasileiros ainda não navegarem na internet, todas as pesquisas sobre
o uso das redes sociais indicam que o Brasil é o país que reina nessas mídias,
de forma que o país do futebol pode também ser considerado a nação das redes
sociais, conforme relatório da Nielsen Online, disponível aqui.
O Brasil já tem a alternativa energética que os
outros países procuram.
Para usar os
combustíveis fósseis precisamos extraí-los. Já a biomassa, pode ser
simplesmente colhida. Mas só vamos colher o que plantarmos. Trata-se muito mais
uma relação de cuidar do que de explorar. Os primeiros não dão duas safras,
pois são resultado de milhões de anos de transformações que geraram o petróleo,
o gás e o carvão mineral. Já a biomassa, nos países tropicais, pode dar até 3
safras por ano. É o caso, por exemplo, do girassol, e outros grãos, raízes e
gramíneas, como a mandioca, batata doce e cana de açúcar, que permitem a
colheita antes de completar dois anos.
Energia Renovável
2/6 (Assista Aqui)
Energia Renovável 3/6 (Assista Aqui)
Energia Renovável 4/6 (Assista Aqui)
A indústria
petrolífera é extremamente concentradora e poluidora, não gera um milhão de
empregos para extração e refino. Enquanto isso, a Escola da Biomassa surge da crítica
dos pontos falhos do ProÁlcool. Entre eles “a utilização de métodos de economia
de escala aplicados a um recurso natural
disperso como é a biomassa, que tem o germe da deseconomia de escala. A
escala gera a monocultura, a concentração de produtos rejeitados e problemas de
segurança alimentar”, como alertou Gilberto Felisberto Vasconcellos, em seu
clássico “Biomassa: a eterna energia do
futuro”. Assim, quanto mais
desconcentrada, mais será produtiva.
Com 30% da área
agricultável dos países tropicais, é possível plantar, colher e produzir o
suficiente para substituir o consumo mundial de diesel e gasolina por biodiesel
e álcool, toda a petroquímica pela alcoolquímica. Essa mudança iria gerar cerca de 240 milhões de postos de trabalho de
qualidade superior aos da metalurgia, e quase um bilhão de empregos indiretos.
Sendo a grande maioria na África e América do Sul.
Na mudança da matriz
energética mundial, durante o século XVIII, quando passou-se a utilizar os
combustíveis fósseis, era a Inglaterra que detinha tecnologia de ponta em
extração e processamento do carvão mineral, e os EUA, no século XX, da extração
e do refino do petróleo, e do desenvolvimento da petroquímica.
Com a escassez das
reservas de petróleo e a, cada vez maior, consciência dos danos ambientais que
os combustíveis fósseis provocam, veremos novamente uma nova mudança da matriz
energética mundial. Agora é o Brasil
quem detém a tecnologia de ponta para a produção da energia da biomassa e da
alcoolquímica. Durante o período de transição, a Petrobrás é a empresa mais
avançada do mundo em pesquisa e perfuração em águas profundas, onde se
encontram as últimas grandes reservas de petróleo.
No passado, a Inglaterra e os EUA utilizaram suas
riquezas naturais, conhecimento e as habilidades dos seus povos para se
tornarem nações imperialistas
espalhando violência, mutilações, exclusão, miséria e mortes mundo afora. Com
firmeza, cada vez mais o Brasil vem mostrando que nossa vocação é pela vida.
Que o diálogo é a melhor arma que a humanidade tem para resolver conflitos; que
vale a pena utilizar tecnologias e descobertas cientificas como munição para a
eliminação da pobreza. A cada dia que passa mais nos credenciamos como
principal ator da construção do entendimento e da sinalização dos caminhos da
inclusão.
O Brasil certamente está mudado e mudará mais. A
grande maioria da população acredita que ele melhorou; alguns acham que está
menos pior; um número pequeno diz que está igual, e é difícil encontrar alguém
que fale que piorou.
O Brasil acaba de dar
uma grande lição, comprovando que cuidar
dos pobres e muito pobres não é despesa e sim investimento. Como disse o
presidente Lula: “a resposta das classes C e D foi o principal instrumento que
transformou a crise financeira mundial de 2008 em marolinha em nosso país.
Neste período, quando quase ninguém queria comprar, foram eles os maiores
consumidores”. Assim como esta, o Brasil pede passagem para dar outras
contribuições de humanização da humanidade.
O preconceito que existe em relação aos muitos pobres,
sempre foi aplicado com uma intensidade incalculavelmente maior, em relação aos
“incomuns” (cidadãs e cidadãos com
deficiência e ou com sofrimento mental). A cegueira, surdez, paralisia e
loucura do mundo dominado pelos “eficientes”, até hoje foi incapaz de perceber
a grande contribuição que pessoas com talentos e eficiências ESPECIAIS podem
nos proporcionar. Existem países que oferecem melhores condições a essas
pessoas; outros, piores. Mas em qualquer parte do planeta, os “incomus”, quando são tratadas como
cidadãos, são cidadãos de quinta categoria.
Os “incomuns” (as cidadãs e cidadãos com
deficiência visual, auditiva, física ou com transtorno mental), não entram na
nossa roda, não sentam na nossa mesa de bar e nem de restaurante, não vão para
o clube, praia, cinema, teatro, luau e nem sarau com a gente. Também não vão
para festas, futebol, carnaval, e muito menos viajam com a nossa turma. Aliás,
não temos amigos com essas deficiências, não temos intimidade com esse povo.
Nosso convívio com eles se restringe às novelas das 8 na rede Globo.
Por mais sensíveis que sejamos, na prática acabamos
tratando-os como pessoas que não tem alma, consciência política, sensibilidade
artística e capacidade de produzir. Agimos
como se eles não devessem receber investimentos e muita atenção, pois só dão
despesas e trabalho, não nos fazem companhia e nos roubam a solidão. Aqueles
que conquistam um lugar no nosso convívio precisam ser melhores que a média dos
que se acham normal, e precisam ficar muito espertos, pois só assim são
tratados como iguais. Não somos nós que abrimos as portas, são eles que as
arrombam.
Na maioria das
atividades, inclusão se limita a duas perguntas na ficha de inscrição: É
Deficiente ( ) Sim ou ( ) Não e Qual:________________ e a um tradutor
de libras no palco ou telinha do telão. Na maioria das vezes não tem nenhum
participante com deficiência auditiva, quase nunca encontramos publicação em
Braille e muito menos facilidade de acesso para cadeirantes e os que possuem
dificuldades de locomoção. Qualquer participante que sofrer um surto,
provavelmente estará condenado ao haldol e internação em hospícios públicos, ou,
se tiver dinheiro, em clinica psiquiátrica privada.
A OMS estima que cerca de 10% da população de
qualquer país em tempo de paz é de pessoas com deficiência, os dados do IBGE,
indicam cerca 15% no Brasil. Mas
onde estão as mulheres com deficiência no movimento de mulheres? Onde estão os
negros com deficiência no movimento negro? Onde estão os militantes com
deficiência nos movimentos sindical, Sem Terra, Sem Teto, ambiental, economia
solidária? Nestes, nos demais outros movimentos sociais, como também em todas
outras áreas da sociedade, sejam universidades ou empresas, em quantidade eles
são a exceção para confirmar a regra, e na qualidade dos cargos não chegam a
gatos pingados.
Nem mesmo a igreja tem
salvação. Não existem pastorais, cultos, atividade especial para eles em
nenhuma delas seja Católica, Evangélica, Espírita, Afrodescendente ou qualquer
outra. A acessibilidade nos templos não vem da consciência humanitária, mas sim
da fiscalização urbanística e do corpo de bombeiros.
No Estado, a
calamidade não é diferente. Apesar dos atletas brasileiros estarem entre os
maiores medalhistas das Paraolimpíadas, no sítio do Ministério dos Esportes
aparece zero vezes zero quando fazemos uma busca com as palavras: pessoas com
deficiência, deficiência física ou até mesmo Paraolimpíadas.
Apesar de ser quase
impossível, é mais fácil achar fotos de negros nas colunas sociais dos jornais
brasileiros, de que referência às pessoas com deficiência nas publicações do
valoroso IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - vinculado à
Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, órgão mais
progressista e atualizado do Estado brasileiro. Se o IPEA, cujas “atividades de
pesquisa são de fornecer suporte técnico e institucional às ações
governamentais para a formulação e reformulação de políticas públicas e
programas de desenvolvimento brasileiro” é assim, o que podemos esperar dos
demais órgãos?
Além da crueldade de que estamos sendo cúmplices, estamos também deixando de desfrutar das valiosas
contribuições estéticas e de comportamento que as pessoas com talentos e
eficiência especiais tem para nos oferecer. Isso sem falar no prejuízo
econômico por mantermos esta população fora do mercado de trabalho.
O Brasil está entrando
em um momento em que será necessário contar com muita força de trabalho. Melhor
do que importar milhões de chineses é criar situações para aproveitar as potencialidades
dos cerca de trinta milhões de brasileiros com deficiências para ocupar parte
desses postos de trabalho.
A falta de estrutura para atender as pessoas com deficiência
– cerca de 15% da população - acaba limitando também a produtividade de mais de
30% da nossa população: para cada pessoa com limitação, existem no mínimo mais
duas que acabam sendo afetadas devido às deficiências da sociedade para com
eles.
O Brasil tem as
vantagens relativas para mostrar ao mundo que investir nos “incomuns” faz bem
para a saúde do planeta em vários sentidos. Desafio este que podemos tirar de
letra, pois a bola já está rolando a nosso favor: O caloroso povo como cenário,
e a Copa do Mundo de 2014, Olimpíadas e Paraolimpíadas em 2016 são um grande
palco. Porém não podemos nos contentar com ações só de fachada, pois assim como
o manicômio não é só o de concreto, acessibilidade não se limita só no concreto
a rampas de acesso.
O impossível, às vezes, também, é aquilo que não
foi tentado, portanto é preciso ajudar a humanidade a acordar desse pesadelo,
em que todos perdemos. É urgente iniciar ações que busquem minimizar ou até
mesmo interromper sofrimentos tão desnecessários.
Em Minas Gerais, um
grupo de pessoas comprometidas com mudanças efetivas, deu os primeiros passes
da partida ao elaborar e aprovar, junto ao Ministério da Cultura, os projetos "Ponto
de Cultura Talentos & Eficiências Especiais" e o "Pontão de Cultura da
Solidariedade". Existem outros bons jogadores espalhados Brasil
afora, alguns já veteranos, cheios de experiência, e outros, que apesar de
novos, já comprovaram que são bons de bola. Todos eles estão cheios de garra e
querendo mostrar suas capacidades, habilidades e criatividade. É preciso juntar
esse pessoal, fazer alguns treinos coletivos para entrosamento e ir para o
abraço. O importante é que a cada competição que a gente vencer, o mundo
inteiro vai ganhar.
O nosso time é
empolgante e a nossa torcida, ainda pequena, é suficiente para nos apoiar nas
dificuldades iniciais. Nada a temer: quando o mundo assistir aos lances nunca
vistos e às jogadas de solidariedade e superação que ainda não teve chance de
ver, vamos conquistar mentes e corações de muita gente.
Temos um excelente
cenário e palco para começarmos a preparar o terreno e ir juntando o nosso time
de artistas. Não será preciso muito treino para formar uma boa equipe para
começar a atuar já nos Jogos Mundiais Militares, no Rio de Janeiro em 2011, Pan
e Parapam no México 2011, nas Olimpíadas e Paraolimpíadas de Londres em 2012,
na Copa das Confederações, no Brasil, em 2013 e na Copa do Mundo de 2014. Em
2016, sem dúvida, o Rio de Janeiro e o Brasil sediarão, além das Olimpíadas e
Paraolimpíadas, o maravilhoso e contagiante espetáculo da solidariedade.
José
Guilherme Castro e Raimundo Anisseto Silva.
Belo
Horizonte, agosto/2010
Sistema SOLIDARIEDADE de Comunicação
Você Participa, Aparece e Cresce
Editorias:
Sinais de Outra Comunicação.
As contribuições dos incomuns na
humanização da humanidade,
através das suas diferentes
formas de ver, ouvir, sentir e viver o mundo.
Brasil é Espetáculo
Os incomuns nas galerias, campos,
praças, palcos, quadras, ruas, telas, pistas,
mostras, piscinas, feiras,
livros, tatames e todas outras passarelas.
Sol na Moleira
Energia, alimentos e flores: nos
trópicos, se plantando e cuidando tudo dá.
Mais de um bilhão de pessoas gritando
juntas, quem vai fingir que não escutou?
Ricardo Tadeu da Fonseca é nomeado desembargador do TRT da 9ª região
Ele já era o único membro do
Ministério Público cego. "Estou muito feliz, pois estou realizando um
sonho. Aos 50 anos, tenho muito a agradecer ao Ministério Público, pelas coisas
que tive oportunidade de fazer. Estou indo para a magistratura com a...”
17 de Julho de 2009 Mais, aqui.
Já é senso comum ouvir
que, com a digitalização da comunicação, TODOS vão deitar e rolar na internet, qualquer um vai poder produzir e transmitir conteúdos.
A não ser
as deficiências da sociedade, não existe nenhum impedimento para que as pessoas
com limitações físicas ou mentais possam estar na rede e em rede. Os incomuns
possuem talentos e eficiências que comprovam que é possível.
Numa sociedade despreparada para o
trato com o diferente, é mais do que NECESSÁRIO construir um sistema de
comunicação gestado e dirigido pelos incomuns, para servir de canal de diálogo
entre eles próprios e entre eles e a sociedade. Enquanto isso não acontecer, os
diferentes vão continuar dependendo de intermediários.
Ponto de Cultura TALENTOS ESPECIAIS
Pontão de Cultura SOLIDARIEDADE
Reflexão
II - Relatório Prêmio Tuxáua – MinC
2010
José Guilherme Castro
(31) 9812 3338 - joseguilhermecastro@gmail.com
Raimundo Anisseto da Silva
(31) 9868 6383 - raimundoanisseto@gmail.com
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