Num mundo de economia globalizada, a mídia também é globalizada.
A atuação ampliada da CNN, a partir das duas invasões do Golfo Pérsico; o apoio
que o Presidente Bush recebe da TV Fox; a continentalização do jornal Herald
Tribune, editado na Inglaterra, entre outros monopólios da mídia, são exemplos
disso. O Presidente Bush tentou sofisticar ainda mais, ao criar, no Iraque, um
canal de TV para fornecer à população a versão norte americana dos fatos. Na Itália,
por duas vezes, Berlusconi chegou ao poder por ser um dos grandes
concentradores dos meios de comunicação. Até os dias de hoje, somente a Europa e os EUA
possuem mídia mundial.
A BBC de Londres consegue manter sua dignidade, com todas as
dificuldades, e continua a ser a referência mundial em termos de mídia pública.
O que se repete, em menor escala, com a Rede de Televisão Portuguesa (RTP), que
também fez correta cobertura da 2ª invasão do Iraque. O cenário tamném
apresenta mudanças de outras naturezas como a Al Jazira e Al Arábia, no Oriente Médio, mostrando ângulos negligenciados pela mídia
imperial. Na América Latina, há boas expectativas em relação à TV Sul e TV
Brasil.
No Brasil, o “coronelismo eletrônico” e as forças às quais ele
serve, surpreendente-mente, no último período, têm ditado a política para o
setor com uma intensidade poucas vezes vistas na história. Em 2003, primeiro ano do governo Lula,
veículos de comunicação tentaram receber o “Pró-Mídia”. No final daquele ano,
sofremos um golpe, com a diminuição da represen-tação popular no Conselho de
Comunicação Social do Congresso Nacional. Nos últimos três anos, cerca de 10
emissoras de baixa potência por dia, 200 por mês, 2.400 por ano tiveram suas
vozes interrompidas. É cada vez maior o número de comunicadores comunitários
respondendo a inquéritos na Polícia Federal. É nesta época que surge na
história do Brasil uma nova e numerosa modalidade de “criminosos”: os
condenados - vindos das lutas populares - por operar emissoras de baixa potência.
Hoje passa de 100 milhões de reais, o valor da poupança popular investida em
equipamentos das emissoras de baixa potência e alcance restrito, lacrados ou
seqüestrados de cidadãos e comunidades, pela Anatel e Polícia Federal. Decisões
de Estado são tomadas sem que haja uma legítima e necessária discussão com a
sociedade e acabam sendo confundidas com “negócios de campanha”. Em maio de
2006, um atentado à soberania nacional com a autorização pelo Cade da Fusão
Sky-DirecTV. Em junho, o crime de Lesa-Pátria do decreto 5820/2006 da TV
digital; e como se fosse pouco, a pedido do deputado Jader Barbalho e do
ministro Helio Costa, o presidente Lula, único com competência legal para tal
ato, requisitou a devolução de processos enviados ao Legislativo, impedindo o
fechamento de 225 emissoras de vários políticos, que tinham concessões
vencidas.
O
cenário interno dos últimos 10 anos é marcado por um grande número de
experiên-cias e apropriação de tecnologias, espalhadas pelo território
nacional, sendo instaladas 30 mil rádios de baixa potência, das quais 10 mil
continuam em
funcionamento. A entrada do sistema de TV a cabo não se
popularizou como gostaríamos, mesmo assim é responsável pelo surgimento de
dezenas de TVs no Brasil, divididas entre comunitárias, universitárias e
legislativas, e suas respectivas representações nacionais ABCCOM (Associação
dos Canais Comunitários), ABTU (Associação Brasileira de TVs Universitárias) e
Astral (Associação das TVs e Rádios Legislativas). É positiva a criação da
Abepec (Associação Brasileira de Emissoras Públicas Educativas e Culturais) e a
manutenção dos canais estatais, embora alguns estejam próximos da dimensão
pública, outros não.
Assim,
os avanços não se restringiram apenas aos progressos tecnológicos e seu
barateamento. Avanços maiores poderão acontecer, caso se consiga formar uma
rede nacional e mesmo internacional de programação compartilhada, com
co-produções, envolvendo emissoras comunitárias, universitárias, educativas e
estatais, aumentando a intensidade de seu caráter público, e criando conselhos
estaduais e municipais de comunicação social, especialmente nas capitais. A
participação das entidades do movimento social e ONGs em veículos populares
trará outro nível de questionamento de setores da mídia, que vem criminalizando
as organizações que defendem o interesse dos excluídos.
É
essencial envolver as forças da sociedade que acreditam na necessidade de
democratizar a comunicação para democratizar o Brasil. É preciso um novo marco
regulatório das comunicações, atualizando as normas referentes ao setor, a
partir do processo de convergência tecnológica e visando a garantia do direito
à comunicação para a sociedade brasileira. É necessário construir um processo
de conferências municipais, estaduais e nacional das comunicações, com vistas a
democratizar a formulação, acompanhamento e monitoramento das políticas
públicas da área.
José
Guilherme Castro / Luiz Carlos Bernardes
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José Guilherme Castro
Consultor de Comunicação. Secretário-Geral do Fórum Nacional
Pela Democratização da Comunicação (FNDC), coordenador de Comunicação e Cultura
da ABRAÇO – Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária e membro do
Conselho Consultivo do Rádio Digital do Minicom. Foi presidente da ABRAÇO MG
01/03, Secretário de Comunicação do PT BH 95-96. Desde 1995 é colaborador da
Rádio Educativa Favela e TV Comunitária de BH.
Luiz Carlos Bernardes
Formado em Direito e em Comunicação, ambos pela UFMG, trabalhou,
entre outros, na revista Isto É - foi chefe da sucursal mineira -, foi repórter
especial da Folha de São Paulo em MG, foi repórter especial do jornal Estado de
Minas, foi membro das Comissões de Direitos Humanos da OAB MG e da Arquidiocese
de Belo Horizonte, entre l979 e l987; foi presidente do Sindicato dos
Jornalistas de Minas Gerais -l987 a l990-; foi presidente da Federação Nacional
dos Jornalistas -l99l a l992-, foi diretor da Federação Latinoamericana de
Jornalistas e da Organização Internacional dos Jornalistas. É o representante
da TV Comunitária - canal 13 - no Comitê Mineiro do FNDC e diretor de Cultura e
Comunicação da OAB MG desde l993. É também âncora da tv Bandeirantes Minas e integrante
do Observatório da Imprensa, das TVs Cultura de SP e TVE do RJ.
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